Esse é mais um exemplo de como o racismo "good vibes" opera



POR: Renata Martins
Estamos todos apreensivos por conta do coronavírus e BBB tem sido minha válvula de escape.
Pela primeira vez eu acompanhei a prova do líder pela Globoplay, pois estava torcendo muito para a Thelma ser líder. Ela e Mari disputaram pau-pau durante 26 horas a prova de resistência.
Passada mais de 20 horas de prova, Thelma começou a cantar sambas enredos e se mostrou muito inteira, enquanto isso Mari mostrava forte sinais de cansaço, mas também se manteve firme. Elas de fato arrasaram juntas até ai.


Na noite de ontem, Tiago Leifert parabenizou a coragem e determinação das duas e anunciou que elas já estavam imunes. As duas comemoraram juntas. Tiago disse ao público:A prova só vai até 10h30 da manhã, se até lá elas estiverem na competição, terão que decidir quem fica com líder e quem fica com 10k. [edit]
Quando Tiago se despediu, Mari começou a questionar a permanência delas na prova, segundo ela, não fazia sentido ficarem lá já que as duas estavam imunes. Thelma, por sua vez, não cedeu as chantagens emocionais de Mari e disse: Eu não vou desistir. Quero ver minha família e ganhar a festa e finalizou: Eu só saio daqui se cair ou numa ambulância. Mari sacou que Thelma não desistiria tão fácil e a partir daí, Mari perde moralmente o jogo e se mostra o tipo de pessoa que conhecemos bem: A branca salvadora.


Em dado momento ela desistiu da prova, mas alegou para os amigos que foi em benefício da Thelma. Ela disse: “Será que eu fiz errado em dar a liderança pra ela, pois ela queria muito e estava muito cansada”.
Gente, em qual momento da história pessoas brancas abriram mão de qualquer coisa em benefício de pessoas negras?
O mais curioso disso tudo, é que a narrativa de Mari colou para a maioria dos confinados; “O que você fez é muito nobre”, “Sua atitude é muito linda”,” Você tem bom coração”.
A Thelma ficou 26 horas de pé na prova, repito: Cantando e praticamente sambando na cara da audiência e dizendo em alto e bom tom que não desistiria. Mesmo o Brasil todo vendo isso, Mari ainda teve a moral de criar esse factoide de que desistiu em prol da Thelminha.


Nem Mari, nem Ivy, nem Flay, nem Daniel, nem Gabi, ninguém disse: Amor, você não deu nada. A Thelma conquistou essa liderança. Se você saiu foi porque quis. As únicas pessoas que disseram isso foram Rafa e Manu. Rafa: É mérito da Thelma. Ela não deu nada, saiu porque não agüentou, porque queria fazer xixi.


Esse é mais um exemplo de como o racismo "good vibes" opera. Ele despontecializa pessoas negras. Nega conquista. Ignora trajetórias e estratégias. Ao mesmo tempo em que se coloca como benevolente e responsável pelo sucesso de pessoas pretas.
Esse é só um programa de entretenimento, mas tentem refletir sobre os espaços que ocupam e notem como pessoas negras são tratadas. Nem vou citar exemplos, vou apenas pedir que reflitam.

Em tempo de epidemias invisíveis e isolamentos é importante pensar que nós, pessoas negras, estamos lutando contra esse racismo “invisível” e sobrevivendo aos isolamentos há mais de 500 anos.
Thelma não ganhou a liderança de Mari, ela conquistou com competência, garra e determinação. O mérito é todo dela!!!

Adenilton Cerqueira

Adenilton Cerqueira é negro antirracista, diretor de conteúdo do Reaja Já, curador digital e produtor de conteúdo especializado em questões étnicas. Bastante contestador ele é consciente do seu propósito e exerce sua liberdade por meio da escrita. Contato: revistaafrobahia@yahoo.com.br / Whatsapp (71) 992497473